Cantigas de Amor

As cantigas de amor tratam-se de uma voz masculina cantando para seu amor platônico. Antes de tudo, é preciso entender que, no século XII, o amor e a forma de se relacionar eram diferentes de hoje. Falamos de uma época, quando a igreja tentava impor o relacionamento monogâmico (forma de relacionamento em que um indivíduo tem apenas um parceiro durante a sua vida ou durante períodos). Esse amor era platônico por causa de diferenças sociais ou, pelo homem/mulher já ter um parceiro. Era um amor cortês, experiência contraditória entre o desejo erótico e a realização espiritual. O desejo erótico é o desejo carnal pela mulher vista como Eva, pecadora. A realização espiritual da-se pela mulher vista como Virgem Maria, boa mãe, boa dona de casa, do lar. Concluímos então que a mulher é o bem (Virgem Maria) que prova o mal (Eva). 
Nesse tipo de cantiga, o poeta fica na posição de fiel vassalo, as ordens de sua senhora, dama da corte, esse amor é considerado como um objeto de sonho, ou seja, impossível, que está longe. Além disso, era um meio do poeta se manifestar sobre o relacionamento imposto pela igreja. 
Nas cantigas de amor o poeta chama sua amada de senhor, pois naquela época, todas as palavras que terminavam com “or”, em galego-português não tinham feminino, portanto ele dizia “minha senhor”, ele cantava a dor de amar, onde está sempre acometido da “coita”. Essa palavra (coita) é muito usada nessas cantigas, ela significa sofrimento por um amor não correspondido. Vejamos um exemplo de cantiga de amor: 

Cantiga de amor por Afonso Fernandes

“Senhora minha, desde que vos vi,
lutei para ocultar esta paixão
que me tomou inteiro o coração;
mas não o posso mais e decidi
que saibam todos o meu grande amor,
a tristeza que tenho, a imensa dor
que sofro desde o dia em que vos vi.” 

Nessa primeira estrofe o trovador expressa o que sente de maneira súplica. A mulher que ele conheceu está sendo idealizada a medida que se declara à ela expondo os argumentos que justificam sua dor.

*Leia toda cantiga em: http://flndnisso.blogspot.com.br/2011/03/cantiga-de-amor-de-afonso-fernandes.html
*Imagem:  uma pintura de Edmund Blair Leighton de 1900: uma visão vitoriana tardia de uma senhora prestando um ato cortês a um cavaleiro prestes partir para batalha.

Comentários

  1. O termo neoplatonismo não seria aplicado para o Trovadorismo, mas, sim, "coita amorosa" no caso das cantigas de amor. Observe que, nas cantigas de amigo, há um suposto envolvimento entre os que se amam para depois acontecer a partida do amado. Portanto, o conceito não é desenvolvido como neoplatonismo na época do Trovadorismo. Mesmo porque, este movimento é regido pelo calor das emoções, o que nada teria a ver com princípios filosóficos. Não nos esqueçamos: Platão era filósofo.

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